por Ricardo Leandro
Cheguei há poucos dias em Goiânia, vim passar minhas ultimas férias como “rerez mortal” perto da minha família, logo de cara me deparei com diversos altidores fazendo campanha para as duas chapas que concorrem para a Diretoria do CRM local. Engraçado como a medicina pode se aproximar da política... deveríamos ter mais com que nos preocupar.
O que me chamou atenção nos altidores foi a briga em relação ao tão falado “exame” para o médico conseguir se registrar no conselho e poder trabalhar legalmente em outras palavras tirar seu “CRM”. Uma chapa radicalmente a favor e outra radicalmente contra. Argumentos são muitos de ambos os lados e sinceramente não me interessam muito, não vou votar mesmo e se votasse não seria aqui. Mas uma coisa tenho que dizer, não conheço os “Doutores” a favor do exame, não sei seus nomes e muito menos o que fizeram pela medicina neste estado que tanto amo, mas que deixei há seis anos, porem concordo com eles, está na hora de nós médicos deixarmos de ser hipócritas e admitir que o grande numero de escolas médicas em nosso pais fez cair muito a qualidade do nosso ensino. Está na hora de admitirmos que hoje o Brasil forma um grande número de médicos despreparados que só vão ter noção do que é a medicina após anos exercendo-a e enquanto isso a população serve como fonte de aprendizado para que os mesmos aprendam com os próprios erros.
Aprender errando não é ruim, é assim que deve ser feito, mas o local para isso são os hospitais universitários onde existem preceptores para corrigi-los antes que os erros saiam dali e prejudiquem alguém. Errar com vidas alheias é crime.
Lembrei-me de uma história que eu mesmo presenciei meses atrás em um hospital em Cuiabá, onde o plantonista responsável era um jovem “Doutor” de vinte e poucos anos, recém formado em uma “UNIPONE” da vida.
Eram 07:45 da manhã, o jovem médico recém chegado com o seu CRM ainda novinho recebeu o plantão do colega que estava a noite. Junto com ele compareciam ao hospital alguns internos (acadêmicos do 6º ano) para evoluir os muitos pacientes ali internados. As evoluções vão caminhando bem e a função do jovem doutor passa a ser apenas a de supervisionar o que os acadêmicos estão fazendo, trabalho fácil para quem não tem segurança, basta concordar.
As 08:30 um interno avisa que o seu paciente não está muito bem, e que precisa de uma avaliação mais detalhada, logo chama o recém formado, único com um CRM em mãos para que ajude nas condutas. Cadê os preceptores? Era sábado, impossível contar com algum deles antes das 10:00.
Correm para junto do paciente o jovem medico e vários internos curiosos, um senhor de 70 e poucos anos internado ha vários dias tratando uma tuberculose complicada por uma pneumonia luta de forma valente para conseguir respirar, o monitor ao lado do leito mostra que a saturação de oxigênio está baixa... 90%.
“Estava em 95% há dez minutos” informa o interno que cuidava do caso. Todos aguardam pela conduta do único médico formado presente.
Minutos de silêncio se prolongam enquanto observam o monitor e a luta solitária do paciente, nenhuma palavra é proferida pelo plantonista a saturação agora é de 87%.
Um interno com toda a sua experiência diz: ” Vamos fazer um CPAP “(ventilação não invasiva). o plantonista rapidamente concorda e solicita a enfermeira que chame o fisioterapeuta para ajudar no procedimento. Antes que ela saia outro interno grita: “Faz 200mg de hidrocortisona nele agora.” Ela olha para o médico com ar desconfiada e o mesmo concorda balançado a cabeça.
Realizado a medicação e o paciente apresenta melhora na saturação com a ajuda do CPAP, porem fica evidente que o mesmo não consegui manter a respiração sem o equipamento. E a saturação logo volta a cair.... 80%.
Alguém sugere: “Vamos entubar.” O plantonista reluta, confessa que nunca fez tal procedimento. É logo repreendido por uma futura colega: “ você é o responsável, podemos entubar agora ou deixar para treinar quando ele for a óbito, a escolha é sua.”
Solicita-se o tubo: número 8 por favor.
Após 5 tentativas o médico mostra um grande talento para endoscopia, conseguiu acertar o esôfago do paciente em todas. E a saturação cai levando junto a freqüência cardíaca. “vai parar...”
Logo um interno perde a paciência e com certa grosseria toma o tubo do plantonista e faz o procedimento ele mesmo, ufaaa! Foi de primeira. Sorte? Talvez.
Mas já era tarde apesar do monitor acusar uma atividade elétrica cardíaca o paciente não tinha mais pulso.
Parou... Afirma o interno que checava o pulso.
Não parou o monitor ta mostrando ritmo - Questiona o plantonista.
Ritmo?? Belo ritmo.
Inicia-se a massagem cardíaca.
O plantonista pega os desfibrilador e coloca as pás no peito do paciente, a enfermeira logo pede para que ele inverta as pás pois estavam trocadas.
O desfibrilador confirma o ritmo do monitor e alguém fala: AESP (atividade elétrica sem pulso).
Afastem que vou chocar. (Enfim uma conduta do plantonista).
Nãooooo. Gritam os internos em coro. Não se choca AESP.
Uma ampola de adrenalina agora - grita um interno para enfermeira. Vamos massagear.
Após cerca de 10 minutos massageando, ventilando e 3 ampolas de adrenalina o paciente volta apresentar pulso. Colocado em ventilação mecânica. felizmente o fisioterapeuta sabia regular o respirador.
O paciente sobreviveu, foi para a UTI e recebeu alta de lá após uma semana, alguém lá em cima deve gostar muito dele.... dele e do jovem “doutor” que felizmente não terá seu “CRM” ameaçado.
(baseado em fatos reais)
Um comentário:
Nossa, estou arrepiada. Meu Deus! Quem são mesmo os nossos doutores?
OI , Primo...
Vc esteve aqui em Goiânia e não me ligou. Estou com raiva :( Ah nem... Isso enfraquece a nossa amizade...
Beijos e muitas saudades... Ultimo ano de estudante..
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